de um cara que amou. Mas amou na hora errada.

"Te ver ontem naquela padaria foi muito inusitado.
Quem diria que você ainda voltaria aqui? E quem diria que pediria aquele sonho com doce de leite que só você gostava?
Eu não sabia o que me impressionava mais: o fato de ver você alí, naquele balcão depois de tanto tempo ou o fato de você ainda continuar com esse gosto peculiar de gostar de sonho com doce de leite. 
Você não me viu chegando. Pensei: Será que ela veio nesse horário porque sabia que eu apareceria por aqui? Ou será que eu estou sendo idiota demais?
Você estava linda. Nunca deixou de ser. Até mesmo com aquela cara amassada de manhã cedo ou de mau humor quando estava com fome.
Seu cabelo tava mais loiro, mais bem cuidado eu até ouso dizer. Mas tinha alguma coisa diferente em você. Uma luz diferente brilhava no seu olhar. E eu fiquei me perguntando se era por minha causa ou se era apenas por provar o tal do sonho com doce de leite depois de tanto tempo...
Me senti bem idiota pensando nisso, na verdade.

Eu hesitei antes de entrar. Fiquei parado por alguns segundos atrapalhando a passagem enquanto meu coração desacelerava, até que um senhor pediu licença e eu me toquei que estava sendo um entrave.

Entrei. E na mesma hora, você recebia seu sonho e corria em direção a uma mesa pra começar a comer. Passou por mim e me olhou surpresa, disse: “Oie”, com aqueles olhos esbugalhados, o sorriso mais lindo que nunca e as bochechas coradinhas do blush que usava.
Parecia mesmo que você sabia que eu estaria alí, apesar da sua cara de surpresa. Parecia que você aguardava a minha chegada.
Eu tremi. Você não sabe como meu coração acelerou mais ainda naquele momento.
Com a voz meio trêmula eu disse: e-e-e-aí.
Nos olhamos constrangidos por alguns segundos. Não conseguia pronunciar mais nada, me perdi naquele teu olhar castanho e profundo.
E foi aí que você começou a falar, pra variar. “Tudo bem? Como vai? E a faculdade? E o estágio? Poxa, que legal!”

O seu problema é que você fala sem parar quando tá nervosa e eu travo completamente.

Mal respondia com “sim/não” e lá estava você fazendo uma pergunta atrás da outra.
E eu não consegui dizer algo além disso: Sonho de doce de leite? Ainda com esse gosto horrível pra comida?.
Ela me olhou feio. Aquele olhar zangado que eu já não via há anos.
Franziu o cenho e disse: “E você continua com essa idéia péssima de achar que só o que você gosta, é bom.”
Me calei. Ela sorriu, pra mostrar que não estava zangada e disse que ia sentar pra saborear o sonho dela. E eu, parado estava, parado continuei.
Não conseguia me mover. Meu coração pesava demais. 
Fui até o balcão e nem me lembrava mais o que tinha ido comprar. Peguei qualquer coisa e fingi que estava certo que era aquilo que queria. Mas mal sabe ela, que o que eu mais queria, era aquele olhar pertinho do meu novamente...

Ô menina, me diz aí. O que foi que tu fez? Depois de tanto tempo, depois de tantos nãos, como você consegue fazer com que eu me sinta o cara mais estúpido do mundo por não parar de pensar em você um segundo sequer?

Que encanto foi esse? Que feitiço tu jogou? Depois de tanto tempo te encontrar foi mais uma dor. Porque eu esperei tanto pra ser o seu amor, enquanto você só me disse não atrás de não. Enquanto dizia sim pra pessoa errada.

Ô menina, me diz aí. Como é que eu faço pra tirar essa agulha com teu nome que grudou no meu peito?
Como eu faço pra não comparar cada mulher que aparece na minha vida com você?
Como eu faço pra não desistir as pessoas só porque elas não têm o teu humor, a tua risada, a tua simpatia?
Como eu faço pra apagar de uma vez tudo aquilo que tu construiu, ainda que sem querer, aqui dentro de mim?

Te ver foi um martírio. Uma prova de que pode passar mil anos, mas você ainda estará agarrada ao meu peito, porque eu não quis deixar você sair.

Ô menina, me diz aí. 


Como eu faço pra me curar de você?"


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